Por: Vinícius Aliprandino
Recentemente os alagoanos da Morfina lançaram seu primeiro videoclipe. A faixa escolhida pelo duo de Maceió para ganhar os vídeos foi a “Seu Amor”, presente no álbum “Farta Evanescente”, lançado em março deste ano.
As imagens do clipe foram captadas por Vitor Peixoto, Lyara Cavalcanti e Marcos Peixoto. Já a parte de edição ficou por conta da própria banda.
A Morfina existe desde 2015 e é formada por Reuel Albuquerque e Igor Peixoto, porém em suas apresentações ao vivo, a dupla conta com outros músicos para fazer o show acontecer.
De acordo com Igor Peixoto, os músicos escolhidos possuem uma grande proximidade e afinidade com a banda devido ao fato desses terem contato com as músicas desde o início do processo de gravação do disco. “O projeto é meu e do Reuel, nós gravamos os instrumentos do disco em estúdio e compusemos as músicas, mas na hora de tocar ao vivo a gente quis formar uma banda que possibilitasse transpor quase todos os elementos do disco pro palco. Então chamamos meu irmão que também é músico, Vitor Peixoto, pra tocar guitarra e meu primo baterista, Yuri Oliveira”, comenta o músico.
A ideia do clipe surgiu sem pretensão alguma no ano de 2015, a partir de uma viagem a Londres, que Igor realizou para visitar sua namorada. Nessa época a banda estava no meio do processo de composição do disco “Farta Evanescente”.
Durante a visita, o músico começou a brincar de filmar algumas cenas para um possível clipe da dupla, porém sem pretensão de um dia realmente utilizar as gravações com essa finalidade. “Lá a gente começou a brincar de gravar cenas pra um possível clipe pra banda, sem nunca esperar que realmente fossemos usar. Até que agora, com o disco lançado, eu e Reuel nos juntamos pra formular uma ideia pra um clipe que envolvesse a linguagem de colagens, gifs, aí eu lembrei dessas filmagens e a gente resolveu usar pra compor o conceito do vídeo”, comenta.
Sobre o álbum
“Farta Evanescente” foi gravado de maneira independente e contém 12 faixas que passam pelo Indie, Rock Alternativo, Folk e conta com programações eletrônicas. A dupla realizou todo o processo de produção do disco em sua própria casa.
As criações dos artistas são resultado de longas noites em frente ao computador de Reuel, ao longo de um ano na busca de arranjos e referências. Para obter e explorar melhor suas qualidades, o duo não teve pressa durante o processo.
“Não queríamos atrapalhar a criatividade com a pressão de estar dentro de um estúdio, pagando por aquela hora. Acho que não atingiríamos o resultado que queríamos se fosse de outra forma”, explica Igor.
No processo de composição de suas músicas, a banda acredita que não ter um padrão é importante para evitar as limitações das ideias. Segundo Reuel, o processo pode variar de canção para canção, de acordo com o conceito que eles pretendem adotar em cada uma, ou no álbum por um todo. “A gente acredita que ter um “processo de composição” pode ser ruim pro que a gente espera de nós mesmos, porque iria acabar resultando em músicas iguais. A ideia que vem me influenciando atualmente, é ter um processo para cada música, imagine ter um para todas. A maneira como é mais comum acontecer é que cada um têm suas ideias e depois juntamos”, conta o músico.
Igor explica que normalmente cada um compõe sua letra e sua melodia, a gravam em uma “demo” para o outro escutar, e em seguida conversam a respeito do arranjo e o desenho de cada música, para saber o que pode ser feito ou alterado na canção. “Selecionamos as que acreditamos que vai se encaixar bem no repertório da banda quando estiverem prontas e começamos a gravar. É um processo que, geralmente, começa individual na composição da letra e da melodia, mas que se torna extremamente colaborativo entre as duas partes ao longo do processo de produzir o que foi composto” comenta Peixoto.
Para conhecer melhor a banda, o Papo Alternativo realizou uma rápida entrevista com os músicos, na qual a dupla explicou sobre esses e outros assuntos, tais como o surgimento da banda, suas influências para o clipe e na parte musical, e a repercussão do grupo na cena alagoana. Confira o bate-papo logo abaixo:
(Papo Alternativo) Há quanto tempo a banda existe e porque do nome Morfina?
(Igor) A banda existe basicamente desde o começo de 2015. Eu e Reuel havíamos passado num edital de audiovisual da universidade, a gente ia produzir um curta e começamos a sonhar em formar uma produtora e ficamos brincando com nomes pra ela, num brainstorm rápido, aí chegamos em Morfina, que a gente logo relacionou logo com Mopho, banda que a gente é super fã e foi um dos motivos que nos aproximou na faculdade, rimos muito e o nome ficou guardado. Poucos meses depois resolvemos nos reunir pra finalmente começar a gravar nossas músicas e quando nos perguntamos qual seria o nome da banda lembramos na hora da Morfina, tudo se encaixou.
(Papo Alternativo) Como surgiu a ideia pra gravação do clipe?
(Igor) Em 2015 eu fiquei dois meses em Londres visitando a Lyara, minha namorada, ela tava morando lá por um tempo. Era o meio do processo de gravação do Farta Evanescente, então eu tava com o disco na cabeça. Lá a gente começou a brincar de gravar cenas pra um possível clipe pra banda, sem nunca esperar que realmente fossemos usar. Até que agora, com o disco lançado, eu e Reuel nos juntamos pra formular uma ideia pra um clipe que envolvesse a linguagem de colagens, gifs, aí eu lembrei dessas filmagens e a gente resolveu usar pra compor o conceito do vídeo.
(Reuel) Foi algo que casou bem, o clipe juntou a nossa falta de orçamento e rapidez de execução que precisávamos.
(Papo Alternativo) Como tem sido o crescimento de vocês na cena de Alagoas?
(Igor) Tem sido legal, as coisas vão acontecendo lentamente, como deve ser. Temos planos de novos clipes e shows que tão se desenhando aos poucos, e a resposta do público tem surgindo também assim, sem pressa, somos uma banda bem recente ainda, mas que sobra vontade de tocar e nunca parar de produzir. A cena aqui é unida, tem bandas ótimas, com artistas muito interessantes e, por ser uma cidade pequena, a gente cria laços no meio e sempre tá dialogando, todos se ajudam. É bem legal ter uma banda e tá vivendo essa batalha com a galera.
(Reuel) A cena é difícil, não pela escassez de bandas, mas pela insufiência de espaços destinados a música underground, experimental, diferente. Na minha visão, uma cena se constroi a ferro e fogo, no suor e delírio das casas de show, com bandas experimentando e tentando fazer coisas novas, aos poucos se criando uma identidade criativa. Somos uma banda pequena que conta com pouquíssimos espaços para se apresentar e tudo que nós queremos é tocar com frequência e “afiar o taco” para fazer cada vez melhor o que fazemos.
(Papo Alternativo) Para a letra de “Seu amor”, buscaram a influência em alguma situação específica que tenha ocorrido com algum de vocês?
(Reuel) A letra é ficção. Apenas uma sequência de acontecimentos que achamos interessante. Não remete a nenhuma situação específica mas remete ao que todos já passaram ou vão passar, provavelmente mais de uma vez. Uma das influências foi Godard e o nome da música era, inicialmente, Pierrot le Beau du Jour, referência a Godard e Buñuel.
(Papo Alternativo) Falando em nomes de artistas e bandas, quais são as influências que refletem diretamente no trabalho de vocês?
(Reuel) Muda sempre. Recentemente, tenho ouvido John Coltrane, Thelonious Monk e Miles Davis, só que um álbum que nunca tinha dado tanta atenção, mas que é sensacional, chamado Filles de Kilimanjaro. O que me atrai mais não é a harmonia ou as improvisações, mas a ambiência desses álbuns, eles têm um espaço muito presente na música, diferentemente de álbuns gravados com muitos overdubs etc, como muitos álbuns de rock. Por outro lado, há pouco tempo também estive ouvindo Oneohtrix Point Never, Arca e o novo EP do Aphex Twin, chamado Cheetah. Este último me chamou atenção novamente para o processo e como ele é importante na música eletrônica. As músicas têm uma “sequência lógica” que, muito mais que construir a música, é a própria música. No caso do Aphex Twin é tudo analógico, então ligar um instrumento no ponto x da cadeia e não no ponto y vai fazer a música soar completamente diferente, porque ela existe como um autômato. A música depende muito menos da função harmônica dos acordes e da melodia, do que de questões condicionais, do tipo: “se eu ligo A, no momento x, então B”. Provavelmente, as próximas canções da Morfina envolverão essas ideias de ambiência e processo.
(Igor) Exatamente, Eu diria que tudo que eu escuto influencia no que componho, mas pra citar nomes que eu escuto demais: Beatles, Mopho, Animal Collective, Haim, Avey Tare, Wado, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Chico Buarque, Arcade Fire e Sufjan Stevens. Acredito que no momento os discos do Animal Collective e o estilo de produção e composição deles tem influenciado muito minhas novas composições, acho que nosso trabalho vai passar por fases assim no futuro.
(Papo Alternativo) A descrição da banda diz que a Morfina é formada apenas por vocês dois e pelo que percebi nos vídeos e fotos da banda, a Morfina tem outros músicos que tocam nas apresentações ao vivo. Como funciona isso?
(Igor) O projeto é meu e do Reuel, nós gravamos os instrumentos do disco em estúdio e compusemos as músicas, mas na hora de tocar ao vivo a gente quis formar uma banda que possibilitasse transpor quase todos os elementos do disco pro palco. Então chamamos meu irmão que também é músico, Vitor Peixoto, pra tocar guitarra e meu primo baterista, Yuri Oliveira. É uma formação legal por todos serem muito próximos e por eles terem contato com as músicas desde o começo do processo de gravação do disco, a gente sempre enviava aos dois as demos das músicas pra ter um feedback do que estávamos gravando.
(Papo Alternativo) Como funciona o processo de composição de vocês? Os dois compõem as letras e as melodias juntos?
(Reuel) Não temos um processo de composição muito definido, isso pode sempre mudar, de acordo com o conceito que queremos para determinada música ou álbum. A gente acredita que ter um “processo de composição” pode ser ruim pro que a gente espera de nós mesmos, porque iria acabar resultando em músicas iguais. A ideia que vem me influenciando atualmente, é ter um processo para cada música, imagine ter um para todas. A maneira como é mais comum acontecer é que cada um têm suas ideias e depois juntamos. Não é raro a ideia estar 100% formada na cabeça de cada um antes de juntar, mas também acontece de ter 50% ou 70%.
(Igor) Isso!Normalmente acontece de cada um compor suas músicas e letras separadamente, gravar uma demo rápida e enviar pro outro escutar, aí a gente troca ideias sobre o arranjo e o desenho da música, então selecionamos as que acreditamos que vai se encaixar bem no repertório da banda quando estiverem prontas e começamos a gravar. É um processo que, geralmente, começa individual na composição da letra e da melodia, mas que se torna extremamente colaborativo entre as duas partes ao longo do processo de produzir o que foi composto. No “Farta Evanescente” as únicas parcerias desde o início da composição foram “Seu Amor” e “ A sede que nos dá”, minha e do Reuel, e “Alguém” e “ Meu Lar”, parcerias minha e da Lyara Cavalcanti.
Confiram o vídeo de “Seu amor” logo abaixo.
Para conhecer melhor o trabalho da banda, acessem a página da “Morfina” no Facebook e no Instagram, ou aos sites que transmitem o álbum em streaming nos links abaixo.