Por: Vinícius Aliprandino
Em 1999, a Columbine High School, localizada no Colorado, Estados Unidos, foi palco de um massacre que chocou o mundo. Dois adolescentes entraram na escola em que estudavam, mataram vários de seus colegas e em seguida tiraram as próprias vidas. O acontecido ganhou as telas com o documentário “Tiros em Columbine” (Bowling for Columbine) do cineasta Michael Moore e agora se torna tema da nova música da Fones.
Inspirados e preocupados com a situação, a banda de Sorocaba-SP lançou recentemente uma canção intitulada “Tiros em Columbine“. A música, que antes era parte do projeto solo do vocalista Renan Pereyra, ganhou a versão com o grupo e marcou a volta do quarteto, após 5 anos sem nenhum lançamento.
Sobrevivendo à mudanças, o caminho da banda não foi tão fácil assim e quase encerrou as atividades quando alguns de seus membros deixaram a Fones. Entretanto, a força de vontade e a necessidade de liberar a catarse interna, fez com que a chama não se apagasse e a Fones, após recrutar dois amigos, integrantes da Justine Never Knew The Rules, para realizar um último show, viu que a química deu tão certo, que decidiram dar sequência no projeto.
Contando agora com Renan Pereyra (guitarra e voz) e Paulo Augusto (baixo) e os novos membros – Mauricio Barros (guitarra) e Gabriel Wiltemburg (bateria) – o grupo está de volta com força total e já entraram em estúdio para gravar.
“Tiros em Columbine” teve a produção da própria Fones. A gravação, mixagem e masterização ficaram a cargo do baterista Gabriel Wiltemburg. O processo foi realizado no Back Studio.
“Como se fosse tão fácil assim
Tirar esse gosto amargo de mim
Ouros pagam escravos
Tiros fazem estragos em Columbine”
“Tiros em Columbine” traz uma letra forte, pesada, mas que contrasta com o ritmo da música, que vem suave e até melancólica no novo estilo da Fones, – seu Soft Punk. O ritmo definido pela própria banda, mas que cai como uma luva para os sorocabanos. É possível perceber nesse Soft Punk, a presença das influências da banda. Além do Punk, vem com a pegada do Grunge, do Rock Alternativo e de Garagem.
A canção começa tranquila, depressiva e melancólica, como se estivesse em um mundo preto e branco e assim segue até quase seu final, quando em uma passagem dramática e caótica muda o ritmo e com as frases carregando o nome da música, dirige o final como se estivesse interpretando uma espécie de desespero e insanidade, pronta para de alguma forma mudar o mundo, nem que seja apenas o mundo interno de quem escuta e sente o que a Fones quis passar.
Tudo isso com originalidade. O nome “Columbine” é pronunciado “columbaine“, porém a Fones joga fora e faz aquilo que a arte permite – quebrar as regras. Para a melodia se encaixar melhor, Renan Pereyra, pede licença poética, canta “columbine“. De um modo que, indo muito além de apenas permitir soar melhor, traz a letra para um estilo “a brasileira”, em um jeito até mais democrático e acessível.
A banda traz pro debate um tema atual, em forma de um manifesto que vai contra a ideia de liberação para a população se armar, e da opressão. Ao mesmo tempo, a musica carrega a voz de uma luta contra os preconceitos e a desigualdade social.
Para falar mais sobre o assunto, o Papo Alternativo conversou com Renan Pereyra (guitarra e voz), que além da canção, nos contou sobre a volta da Fones e os planos da banda. Confiram a entrevista logo abaixo.

(Papo Alternativo) Conta pra gente sobre a temática da “Tiros em Columbine”.
(Renan Pereyra) É basicamente um manifesto anti-armas e contra o avanço do discurso fascista. Contra toda forma de opressão. Um grito por liberdade. A letra foi inspirada no documentário “Bowling For Columbine“, do Michael Moore, mas dá pra entendê-la também como uma analogia ao que estamos vivendo hoje, lembrando dos muros do preconceito e da desigualdade social que nos dividem cada vez mais – além da falta de amor e empatia. Por outro lado, gosto de deixar livre a interpretações, pois esse é o lado realmente transgressor da arte. Já ouvi diferentes teorias de pessoas que escutaram a música e se identificaram com seu conteúdo de uma forma que nem eu mesmo havia parado pra pensar. E isso não significa necessariamente que o que elas entenderam tenha menos peso ou relevância. Pra nós, é muito mais importante que a música faça sentido pra você do que ditarmos uma única mensagem.
(Papo Alternativo) Algum tempo atrás alguns integrantes deixaram a Fones e a banda quase acabou. Como foi esse processo e como deram a volta por cima, até chegar nessa nova fase e formação da banda?
(Renan Pereyra) Nosso retorno foi meio que sem querer. A última formação contava com nossos parceiros Jefferson Viteri (bateria) e Ariel Machado (guitarra). Entramos em hiato em 2015 e nossa ideia era fazer um último show em 2017, no Grito Rock Itu. Como o Jefferson não podia tocar no dia, chamamos nossos amigos Mauricio Barros (guitarra) e Gabriel Wiltemburg (bateria), ambos da Justine Never Knew The Rules, pra nos acompanhar. Deu tão certo que decidimos seguir com um novo nome, mas também acabamos voltando atrás. Seria muito triste para todos nós assassinar o Fones e o seu legado.
(Papo Alternativo) “Tiros em Columbine” era uma música do seu projeto solo. Por que você decidiu trazer ela pra Fones?
(Renan Pereyra) É uma música que eu gosto muito e sempre tive vontade de gravá-la com guitarras. Como eu não sei tocar bateria, chamei meu amigo Alê Cruz (ex-Volpina/Vilania e atualmente na Sarabatana) pra me ajudar na gravação. Ficou tão legal que montamos uma banda, mas que travou na fase de ensaios por conta de alguns problemas que eu tive. Quando o Fones voltou, tive novamente a oportunidade de tirar essa ideia do papel. E foi isso o que aconteceu. Aliás, fica aqui o meu agradecimento ao Alê, um cara que eu admiro muito e que criou as linhas de bateria de “Tiros em Columbine”. Com certeza ainda teremos a oportunidade de tocar juntos em outro momento, é inevitável.
(Papo Alternativo) Com a volta, o que podemos esperar de mudanças na banda?
(Renan Pereyra) Pretendemos produzir mais. Definitivamente já não somos o que éramos há cinco anos. Nossas vidas mudaram, muitas influências também. Mas o espírito punk continuará presente em tudo o que fizermos.
(Papo Alternativo) Com a música lançada, quais os planos que agora vocês têm em mente?
(Renan Pereyra) Já estamos trabalhando em outras músicas e pretendemos lançar um EP no segundo semestre de 2017. Depois disso entraremos em turnê para divulgar essa nova fase. Também estamos agendando alguns shows pelo interior do Estado e capital. Divulgaremos todos os detalhes na nossa página no Facebook. Stay Dirty!
Confiram “Tiros em Columbine” no Bandcamp do grupo ou no link abaixo, e acompanhem o trabalho da banda, através da página oficial da Fones no Facebook.
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