Por: Vinícius Aliprandino

O problema da seca no Sertão Nordestino persiste através dos tempos. A falta de chuva castiga o solo, que não deixa que o verde floresça e, consequentemente, ocasiona diversos outros problemas, como a escassez de alimentos, miséria, dificuldade em ter um fluxo maior de pessoas no local e então permitir desenvolvimento da região. Como se as condições climáticas já não fossem o suficiente para complicar a vida, a exploração desenfreada da região, acaba dificultando ainda mais a situação.
Entretanto o povo que vive nessas áreas resiste e conta com a fé – talvez a única arma que reste e que possam contar. Acreditar em dias melhores, e que o pouco que resta e foi conquistado não vai secar.
Pensando nessas questões e descrevendo os dilemas ali vividos, a banda baiana Semivelhos escreveu e lançou a canção “Vai Chover”, que ganhou uma arte animada.
A arte é de autoria de Iuri Nogueira e mostra duas mãos que choram e irrigam o solo – demonstrando uma das poucas ocasiões em que um pouco de água cai sobre o solo rachado. Entre as mãos, uma mulher aparece com suas mãos sendo mostradas da mesma forma que as outras duas ao lado – em suas palmas, dois olhos derrubando lágrimas sobre o chão.
A cada compasso da canção, a mesma imagem novamente se abre, como se fosse uma nova e mesma velha imagem. Podemos dizer que isso representa a esperança por dias melhores, mas em contrapartida, tem acabado na mesma situação.
Aliada à arte, a música corrobora com a ideia. Muita fé de que os dias irão melhorar, porém até o presente, nada de novo tem acontecido. Apenas o mesmo sofrimento causado pela seca ao longo de todos os anos.
Outra característica de “Vai Chover” é a ausência de refrão. Além desta, é notável que nenhum verso é repetido durante a faixa. Nada se repete, em contraste com a seca que persiste e se repete, combatida com a esperança que nunca morre e mantém o povo do sertão vivo, forte e resistente.
Ainda na música, é retratada a transposição do Rio São Francisco, irrigando as esperanças por dias melhores no sertão.
“O homem quis tirar Mudou rio do lugar
Pra adoçar a boca do poder
Chover…
O que vai ser de nós?
Quem será nossa voz?
Deixa o rio correr pro sertão não morrer…”
A faixa foi gravada nos estúdios Casinha Music, em Juazeiro, na Bahia. Para a parte de mixagem e masterização, a banda contou Iago Guimarães.
A Semivelhos tem influências de Queens of Stone Age, Muse e Luiz Gonzaga e conta com André Maturano (guitarra), Pedro França (voz e guitarra), Mamede Musser (bateria) e Egon Costa (Baixo).
Para a canção, em específico, a influência veio do canto das Rezadeiras do Bendito de São José.
“Aqui, a fé é a única coisa que nos resta. Então, seguimos nossa cultura e pedimos aos céus que chova, suplicando, também, para que o Rio São Francisco não seque. Ele é um oásis no meio do Nordeste, um alento para o povo”, contam os integrantes a banda.
Confiram a música e a arte de “Vai Chover” no link abaixo e acompanhem o trabalho da Semivelhos, através da página oficial da banda no Facebook.