Por: Vinícius Aliprandino
A introdução do rap bate como se contasse os segundos até a chegada do apocalipse. A batida segue o compasso como se tivesse algo a dizer e prestes a acontecer, assim como a guitarra, com sua distorção, ecoam as notas como avisos em um mundo prestes a desabar. Mas o que mais assusta é que já está acontecendo.
O apocalipse distópico, alertado por Yannick Hara, não é apenas uma previsão para algo que pode vir a ocorrer. É um relato dos fatos atualizados no streaming ou no imediatismo da notícia, na escravidão a ser ainda mais legalizada, ou no consumismo e efeito estufa vestidos de populares, descolados e aceitáveis.
Em “Blade Runner“, Yannick alerta sobre como a tecnologia já está em nosso meio, nos robotizando e nos fazendo seguir padrões, perdidos como androides que sonham, mas não vive; em cópias da cópias e réplicas das réplicas. Agora em “A Ideal Mão de Obra Escrava”, o rapper vai direto na política e bate de frente com assuntos atuais e em pauta na sociedade brasileira.
A crítica aperta a ferida de questões como a exploração baseada nas privatizações, terceirização de serviços, reformas trabalhistas e previdenciárias, que colaboram para a precarização do trabalho.
Enquanto no single anterior, Yannick mantinha um tom mais tranquilo, aqui o desespero é nítido. O rapper canta com mais agressividade. Refrões que gritam o nome da faixa “a ideal mão de obra escrava” e “reforme as reformas” mostram um alarme que, assim como as feridas, foi apertado, como se quisesse acionar o botão de “emergência”.
“A pauta política sempre discutida, mas nunca posta em prática, a questão trabalhista, o reajuste salarial do judiciário e a reforma da previdência que prejudicará milhões de brasileiros ao ser aprovada são algumas das pautas que quero trazer com esse trabalho”, comenta o músico.
“O Agro não é pop”. Frase já muito conhecida, que ficou ainda mais famosa quando foi pronunciada pelo então candidato a eleição presidencial em 2018 – Guilherme Boulos, durante um debate eleitoral. Yannick pega carona no assunto, e além de colocar a cena em que Boulos faz a crítica ao agronegócio, também coloca a pauta na canção.
O rapper relaciona e classifica o assunto em questão como o principal responsável pelo desmatamento da Amazônia e do efeito estufa no mundo. “O agro é pop, o pop é macro, o macro destrói o que é tão sacro”, denuncia a música.
E já que o disco faz referência ao filme Blade Runner e prevê um futuro distópico, para o qual caminhamos, faz todo o sentido lembrar que na obra de Philip K. Dick, os animais foram extintos e os que restaram ficaram vivendo sob disputas . Partindo dessa comparação, o músico entra na questão da libertação animal, e lembra que os animais são o grupo mais explorado do planeta.
“É um ciclo onde quem explora não tem outra alternativa senão explorar quem está ainda mais abaixo e aí também cabe uma discussão sobre os males que esse tipo de alimentação traz para as populações mais carentes”, explica Yannick.
Complementando, o single traz a reflexão a respeito de como o capitalismo se fundamentou, também, através da criação de gados e com a obtenção de lucros, existindo por meio de um sistema que espreme a vida humana, em um formato que descarta aquele que é improdutivo. Soma-se a isso o fato de que humanos e animais vivem na mesma situação, na qual um deles vende a força de trabalho, enquanto que o outro não tem direito a própria vida.
O clipe teve a direção de Victor Castro e do próprio Yannick Hara. A montagem também ficou a cargo de Victor Castro. A pós produção é de Pedro Camargo. E a realização é de Takeover Filmes.
“A Ideal Mão de Obra Escrava” fará parte do disco “O Caçador de Androides”, que será lançado no dia 19 de novembro de 2019.
Confiram o clipe no link abaixo e acompanhem o trabalho de Yannick Hara, através da página oficial do rapper no Facebook, Twitter e Instagram.
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