Vinícius Aliprandino
“Nada se cria. Tudo se copia“. Essa ideia é clichê e também copiada, mas não deixa de ser a verdade. Vivemos em um mundo muito habitado pelo “CONTROL C / CONTROL V”. O famoso copiar e colar. Textos, imagens, ideias, batidas, estilo e tudo mais que se possa imaginar, pode ser copiado. Nada escapa. Mas o que é ser original? Talvez tudo já tenha sido invetado ou ainda existe muito o que se criar?
Afinal, se pararmos pra refletir, tudo vai sendo uma releitura de outra ideia já existente em algum lugar no passado. Ou não. É sobre isso que trata a canção “Replicantes“, do rapper Yannick Hara.
A faixa faz parte do disco “O Caçador de Androides“, lançado em novembro de 2019 e que, através do universo cyberpunk, influenciado pela saga dos filmes Blade Runner, nos mostra um futuro da ficção científica que é tão atual em nosso presente, quanto real. A distopia da saga, alertada por Yannick, acontece agora.
Tecnologia que escraviza
A tecnologia é um dos pontos alvos do disco. Ao longo do “O Caçador de Androides“, o rapper mostra o quanto ela pode ser nociva, aprisionadora e manipuladora em nossas vidas.
E é através da própria tecnologia que “Replicantes” surge para abordar o universo do “copiar e colar”, deixando a criatividade de lado.
“Cópia da cópia da cópia da cópia da cópia da cópia da réplica. Réplica, da réplica, da réplica da réplica da réplica, da cópia”.
São tantas cópias e réplicas que fica difícil saber se o número está exato. Mas a realidade também é assim. Tudo que é copiado em nosso dia a dia, por mais que se afaste do original, fica difícil de uma hora saber de onde surgiu e onde está o original.

“Replicantes”
“Replicantes” são androides, criados no universo da saga Blade Runner, para servir ao ser humano. Uma criação do homem para servir o homem. E não seria a mesma situação com o mundo fora da tela?
Não seríamos, cada um de nós, quando não originais, seguindo tendências, fazendo tudo da mesma forma, ao invés de apenas buscarmos influências, replicantes de um sistema. Criados para consumir aquilo que de certa forma deu certo e apresenta lucro e a ordem social, dentro das margens que o sistema criador permite?
A faixa tem sua introdução sinistra e melancólica. Como se trouxesse consigo a tristeza em ser a cópia, viver em um mundo onde nada se cria. Mas mais do que essa tristeza é ser visto apenas como mais um para um sistema que descarta quem não serve, ou, simplesmente faz uso, com remuneração baixa.
Questões
Em determinado momento da canção, como se acordasse em um lugar sem saber como foi levado até lá, o personagem encontra outros de seus semelhantes e os questiona, quanto sobre o que eles fazem ali.
Seria aquele o ambiente para onde todos são levados para o descarte? Saindo da metáfora e partindo para a vida real, caótica, e de um futuro que acontece agora, não seria a situação em que a humanidade se encontra?
Mais especificamente “Replicantes” também fala sobre imitação dentro do cenário da música, em especial o hip hop, onde muitos artistas se limitam apenas em repetir fórmula já prontas e moldadas para dar certo.
Outras faixas do disco
Além do disco por completo, Yannick tem lançado cada uma das faixas do disco, de maneira separada, explicando a intenção em cada uma das canções.
Anteriormente á “Replicantes“, o músico já havia lançado as faixas e/ou clipes de “Blade Runner“, “A Ideal Mão de Obra Escrava“, “Caótico Distópico“, “Lágrimas na Chuva“, “O Prólogo e o Título“, “Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas?” e “Voight Kampff”.
Confiram “Replicantes” e o álbum “O Caçador de Androides” no link abaixo e acompanhem o trabalho de Yannick Hara, através da página oficial do músico no Facebook e do perfil no Instagram.