Por: Vinícius Aliprandino
Roupas brancas, rotos pintados, danças estranhas e olhares insanos. Misture a isso solos virtuosos de guitarra, uma linha de baixo que se repete de modo a lembrar cenas e loucura em filmes de terror, batidas fortes de uma bateria raivosa, muita psicodelia do rock progressivo e crítica ao materialismo, consumismo e à sociedade em geral.
O clipe de “Eletrolux”, da banda sorocabana Bâmos Q Bânia, chega para anunciar o trabalho do grupo. O single estará presente no disco de estreia, que a banda pretende lançar, ainda em 2020.
Com a fotografia de Fred Guerrero, a faixa foi produzida de maneira independente pela banda.
A voz do eletrodoméstico
O nome “Eletrolux” faz referência à marca de eletrodomésticos de mesmo nome. A canção dá voz, de maneira metafórica, a uma geladeira, que induz ao consumo, porém ao mesmo tempo, a crítica pode ser compreendia como se cada indivíduo, fosse uma peça da sociedade e tivesse sua função específica.
Desta função, espera-se que ele possa fornecer algo para o meio em que vive. Quando as expectativas não são correspondidas, acontece o descarte desse ser humano objeto.
Durante a canção, os slaps do baixo dão início ao enlouquecer dos personagens do clipe. A loucura pode ser interpretada como uma consequência dessa busca incessante, na qual não existe ponto e chegada e, cada vez mais, a mente se desgasta.
Ventilador, liquidificador, batedeira, torradeira – todos os eletrodomésticos são mostrados, caracterizando o materialismo e tudo aquilo que a publicidade induz a comprar.
O novo que amanhã já está velho. A necessidade que é suprida em um dia e no outro se torna tão dolorosa quanto à fome em um estômago vazio. A superficialidade que as coisas têm e que, nessa jornada de ter sempre mais, nunca estar satisfeito e desejar a vida da propaganda de refrigerante, acabam tornando cada indivíduo em um soldado.
Uma peça fabricada e pronta pra funcionar daquela maneira. Tudo isso levando a vida ser aproveitada de uma maneira tão superficial quanto cada um dos objetos.
“Podemos entender que a música fala sobre como cada indivíduo possui suas habilidades de entrega, sob qualquer aspecto, para a sociedade. Mas, quando esse indivíduo não entrega o que é esperado por ela, ele, simplesmente, é descartado”, explicam os integrantes.
O momento do descarte pode ser percebido quase no final do clipe. Quando tudo parece ter acabado, a música retorna e a destruição dos objetos é realizada, representando, de maneira metafórica, o mesmo descarte do ser humano que não serve mais para a sociedade.
Amigos, clipe e eletricidade emprestada
O clipe nasceu de ajuda coletiva para além dos membros da banda. Os amigos foram responsáveis por parte do trabalho. De acordo com a banda, os integrantes não sabiam como gravar o vídeo. A captação das imagens foi realizada por eles mesmos, em um processo totalmente novo, na bagagem do grupo sorocabano.
O palco escolhido para fazer acontecer toda a viagem de metáforas e críticas ao materialismo foi uma construção inacabada em Sorocaba. Como o local não tinha eletricidade, a Bâmos Q Bânia precisou pegar emprestada de uma fábrica localizada nas proximidades.
“Só Não Pare!”
Durante o vídeo, os integrantes, vestidos de roupas brancas e com os rostos pintados da mesma cor, realizam a performance, seguindo o ritmo da música.
Em outras cenas, corredores e lojas de vendas de eletrodomésticos, também são apresentados, relacionando o produto ao indivíduo.
Destaque para a cena da marcha dos personagens, na qual os vocais ordenam “Só não pare!”, representando a constante necessidade de seguir consumindo e sendo uma peça da engrenagem da sociedade, em prol de objetivos materialistas.
Banda e influências
O grupo foi formado em 2018, na cidade de Sorocaba-SP e conta com Giovanni Guazzelli (guitarra/teclado/voz), Rafael Guazzelli (guitarra/voz), César Guazzelli (baixo/voz) e André Luckner (bateria/percussão).
Além do rock progressivo, a banda carrega as influências do jazz, rock clássico, MPB e do jazz brasileiro. Nomes como Pink Floyd, Emerson Lake Palmer, Camel, Genesis, Yes, King Crimson e Os Mutantes, são algumas das referências musicais do quarteto.
Ficha técnica
O guitarrista, Rafael Guazzelli ficou a cargo da direção. O baterista e percursionista André Luckner cuidou da produção do clipe. Cezar Guazzelli foi quem realizou a produção executiva. A parte de mixagem e masterização foi feita pelo vocalista Giovanni Guazzelli.
A co-produção é de Murilo Furão Perrou, enquanto que Lucas Moreira cuidou da cenografia e Hans Muller Cetto realizou a parte de revisão. A direção de fotografia ficou sob responsabilidade de Fred Guerrero.
Além da banda, fez parte do elenco do clipe, Alexandre Von Harder. E Ronaldo Rodrigues, da banda Caravela Escarlate, realizou a gravação do teclado da faixa.
Confiram o clipe de “Eletrolux” no link abaixo e acompanhem o trabalho da Bâmos Q Bânia, através da página oficial da banda no Facebook e do perfil no Instagram.