Por: Vinícius Aliprandino

“Não haverá futuro até que cada bandeira queime em seu mastro. Não haverá futuro enquanto nos dissiparmos nas lutas que entregamos” – essas são as reflexões presentes em “Memória Falha” – a primeira faixa do disco “Ruptura do Visível” do Institution.
Pesado, rápido, desesperado e pedindo por urgência pela mudança, assim pode ser definido o segundo disco da banda que caminha pelo hardcore e o metal, que foi lançado pela gravadora paulista Hearts Bleed Blue, em formato de CD e LP.
Com 9 faixas, totalmente em português, o grupo tem nessa questão uma das diferenças em relação ao primeiro álbum do grupo – “Desolation Times”, lançado em 2015.
Faixa a faixa
A ruptura do visível que a Institution propõe começa com a já citada “Memória Falha”. Logo de cara é possível sentir a fúria e, apesar de todo o caos e desesperança que permeia o mundo, a necessidade e busca por um caminho mais verdadeiro, intenso e justo.
Na sequência, “A Queda” lembra da cólera e do olho por olho e dente por dente, em um mundo que combate ódio com ódio. Os assuntos são dilacerados juntos da música, que traz baterias e guitarras insanas, um baixo que segura todo o peso da canção e os vocais que gritam para que essa situação mude.
“Sonhos foram enterrados ante minério e lama por omissão” – com esses versos, é impossível não lembrar de desastres ambientais, como os das cidades de Mariana e Brumadinho, ambos em Minas Gerais, causados pelas empresas Vale e Samarco. “Efetividade Árida” faz questão de tocar justamente na ferida aberta, de como o homem usa e prejudica a natureza, em prol do dinheiro, e não se importa em colocar na mira de um risco constante, a vida de outros.

Questões como democracia e a luta daqueles que buscam por ela são cantadas em meio ao vocal áspero e raivoso de “Insurgência”. Em seguida, “Vertical” tem sua introdução mais tranquila no baixo, porém, logo deságua em um poço de eletricidade contestando a fé e a tradição em manter a ordem social sempre submissa às ideias retrógradas, que nada correspondem com às necessidades do mundo atual.
“Frêmito” já começa com guitarra e bateria em alta velocidade. O baixo logo chega para somar, levando todo o instrumental para o encontro da catarse. A música segue mais cadenciada do que as anteriores, dando uma quebrada no jeito rápido do disco, porém sem perder a essência caótica e alarmante.
Mas “Vidas Plásticas” surge para devolver a correria do álbum, em uma canção que trata de como os meios de comunicação são usados para criar mentiras e uma ilusão de um mundo perfeito, com a intenção do consumo.
“Eles definem você, definem quem precisa ser.
Afinal, quem é você?“
Privatização, descaso estatal, esquecimento e medo são alguns dos temas elencados em “Cidade Informal”. A música aborda a questão de como existe tanta gente sem casa, ao mesmo tempo que existe tanta casa sem gente, com moradias nas mãos de poucos, que beneficiados pela posição social, utilizam, exploram, vendem ou não, do modo como convém as propriedades, enquanto outros estão jogados ao relento, sofrendo com frio, fome e o perigo de morar nas ruas.
Fechando o álbum, “Metástase” parece quere espremer o pouco de sanidade que restou. A música vai para além dos limites e da mesma forma como é abordado em sua letra, reflete no instrumental e voz, a caminhada da humanidade rumo a um abismo do não questionar, diante da mentira imposta por quem oprime, a fim de manter a ordem e o status quo.

Ficha técnica
Para a arte da capa, a banda contou com Gustavo Magalhães do Estúdio Miopia. A produção foi feita por Rodolfo Duarte e Muriel Curi. Já a parte de mixagem ficou a cargo de Fernando Sanches, enquanto que a masterização é assinada pelo estadunidense Brad Boatright.
Confiram “Ruptura do Visível” aqui e confiram o clipe de “Memória Falha/ A Queda” no link abaixo e acompanhem o trabalho da Institution, através da página oficial da banda no Facebook e do perfil no Instagram.